Sistemas precários e material tecnológico defasado podem impedir que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, concretize a promessa de zerar a fila de concessão de benefícios do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) até o final do ano. Para atender a meta do governo, servidores madrugam para acessar sistemas e sofrem para usar as tecnologias do órgão para analisar os pedidos.
Neste mês, a Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps) lançou luz sobre a indisponibilidade de acesso ao sistema em boa parte de fevereiro, o que impossibilita a análise e a concessão de benefícios por um servidor e gera sobrecarga de trabalho.
A federação coletou relatos de servidores que precisaram logar no sistema 5h da manhã ou que ficaram trabalhando até 23h para evitar momentos de pico e poder cumprir as metas.
— Os sistemas são bem precários, e acabou criando uma situação em que os servidores acabam tendo que trabalhar de madrugada para atingir as metas. Isso também acarretou um adoecimento muito grande da categoria. Eles tentam utilizar o sistema em um horário de menor demanda porque ele funciona um pouco melhor. É um descaso completo — explica Cristiano Machado, da diretoria colegiada da Fenasps.
O INSS informa que vem comprando novo maquinário, renovando o parque técnico de computadores e ampliando a velocidade da internet nas agências. Além disso, o órgão afirma que vem oferecendo cursos de capacitação e de pós-graduação a seus servidores. Sobre a rede de internet, explica que, em meados de 2022, firmou contrato com a Telebrás para oferecer rede corporativa de dados para todas as unidades do órgão.
Investimento em tecnologia é chave
Para Cristiano, um dos principais motores para conseguir alavancar as metas e tentar zerar a fila até o fim do ano é o investimento em tecnologia dentro das agências e nos sistemas. A precariedade identificada pelos servidores nos sistemas do INSS também afeta o teletrabalho, modalidade adotada pelo órgão no começo da pandemia.
A estrutura tecnológica do órgão é um dos motores que levam à sobrecarga, um dos principais motivos de preocupação entre representantes classistas.
— Gera uma pressão ainda maior por metas de produtividade em uma situação ainda muito precária. Claro que todos os trabalhadores têm metas para cumprir, mas no INSS elas são totalmente irreais e desvinculadas da realidade concreta — explica.
O INSS informou que, para 2023, está prevista a substituição de, pelo menos, 30% do parque de microcomputadores (8 mil). Em 2022, foram substituídos 2.724 computadores, 593 notebooks e 6.300 webcams. E ainda tenta ver com o Ministério da Fazenda para tentar garantir disponibilidade orçamentária para fazer contratações e substituições do seu parque de equipamentos.
Falta de servidores ainda é grave
Outro problema antigo que assola os servidores do INSS é a carência de servidores — estimada pela categoria em 23 mil, mais que o número de servidores na ativa, que é próximo a 19 mil. No governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi elaborado um estudo técnico que apontou a necessidade de contratação de 7,5 mil servidores.
Cristiano explica que “A tecnologia ajuda, claro, mas nós enquanto especialistas em reconhecimento de direitos, legislação previdenciária, dependeria da possibilidade de atendimento presencial àquele segurado, que necessita disso e tem dificuldade de acessar canais remotos”.
Fonte: Jornal Extra.