Este dia marca uma barreira de resistência em uma maré de retrocessos, em especial com a aprovação, em 2017, da reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/17), e a Previdenciária, que já passou no primeiro turno da Câmara dos Deputados
Do mesmo modo que o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, o 25 de julho, Dia Internacional da Mulher negra latino-americana e caribenha, é mais uma data para reflexão e luta contra o machismo e o racismo, tão presentes na sociedade atual, mais ainda na brasileira, marcada pelo forte patriarcalismo.
Este dia marca uma barreira de resistência em uma maré de retrocessos, em especial com a aprovação, em 2017, da reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/17), e a Previdenciária, que já passou no primeiro turno da Câmara dos Deputados.
Reformas: o ataque é ainda maior à mulher negra
Além de diminuir a diferença de idade mínima entre trabalhadores e trabalhadoras urbanos/as – antes da PEC 06/2019 eram, respectivamente, 60 e 65 anos, no RGPS; agora são 62 e 65 – a reforma da Previdência de Bolsonaro exige tempo mínimo de contribuição igual entre gêneros: 20 anos. Para a trabalhadora rural, o ataque é ainda maior, já que as idades mínimas são iguais em 60 anos. Não resta dúvida de que as mulheres, as negras em especial, serão as mais afetadas pela reforma da Previdência.
A idade mínima garante o menor valor possível para uma aposentadoria, isto é, um salário mínimo. Para obterem a aposentadoria integral, ou seja, 100% do benefício, as mulheres precisam contribuir, assim como os homens, por 40 anos, desconsiderando que elas cumprem jornadas duplas e muitas vezes triplas.
Uma pesquisa do IBGE realizada este ano revelou que as mulheres dedicam, em média, o dobro de horas em afazeres domésticos do que os homens, fazendo cair por terra o discurso de que homens e mulheres “modernos” dividem igualmente as tarefas dentro das casas brasileiras.
No mercado de trabalho, a desigualdade é ainda maior. Mesmo com diploma de ensino superior, a diferença salarial entre um homem branco e uma mulher negra é de 43% para funções correlatas, como demonstrou uma pesquisa do Instituto Locomotiva.
Esse cenário se agravou ainda mais com a reforma Trabalhista, aprovada em 2017, na gestão Temer. As mulheres negras, em especial de baixa escolaridade, foram as que mais perderam direitos com a sua promulgação, por estarem, em sua maioria, em postos precarizados de trabalho – empregos domésticos, por exemplo –, tornando-as mais frágeis diante da “flexibilização” de direitos sociais.
Luta e resistência: único caminho possível
Diante de todos esses ataques, culturais, sociais, e, com um governo abertamente racista e machista, institucionais, o único caminho possível à mulher negra brasileira é o da resistência. A luta é diária, e a classe trabalhadora ainda tem muito a aprender e somar com as mulheres negras, que ajudam a sustentar este país multicultural.
Não existe caminho fácil ou receita pronta, mas há exemplos a serem seguidos.
Em 25 de julho de 1992, um grupo de mulheres negras organizou o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, em Santo Domingo, na República Dominicana, em que discutiram sobre machismo, racismo e formas de combatê-los.
Deste evento, surgiu uma rede de mulheres que permanece unida até hoje, bem como nasceu a ideia do Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, lembrado todo 25 de julho, data reconhecida pela ONU ainda em 1992.
No Brasil, a data foi instituída em 2014, com uma peculiaridade: 25 de julho é também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em homenagem à líder quilombola que viveu no século XVIII e que foi morta em uma emboscada.
Na vida e no trabalho, resistir é preciso. É preciso, a cada dia, ser como Tereza, Dandara, Maria Felipa, Luíza Mahins, Marielle Franco. É preciso ser como milhões de mulheres negras anônimas que carregam esta luta no peito, no Brasil, na América Latina, no mundo.
VIVAM AS MULHERES NEGRAS LATINO-AMERICANAS E CARIBENHAS!
VIVAM AS MULHERES NEGRAS BRASILEIRAS!