Há 02 anos, no dia 10/11/2011, foi instituído, através da lei 12.519, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, com o objetivo de promover a reflexão e o debate sobre a inserção dos negros e negras na sociedade brasileira. Mas, desde a década de 60 a data é comemorada.
Há 125 anos, oficialmente, foi abolida a escravidão no Brasil, mas até hoje, ainda se fazem necessárias campanhas e ações de combate ao trabalho escravo e um grande número de trabalhadores e trabalhadoras trabalham em situação análoga.
E os historiadores e historiadoras, com raras exceções, até mesmo aqueles/aquelas cujas idéias e elaborações são utilizadas pelo movimento sindical e popular, de um modo geral ignoram o trabalho desenvolvido pelos negros e negras e indígenas em nossa sociedade e falam da história da organização dos trabalhadores e trabalhadoras no Brasil a partir da chegada em massa dos/das imigrantes europeus.
É que a própria importação de mais de 02 milhões de europeus, especialmente portugueses, espanhóis e italianos, tinha como objetivo conformar um tipo de povo brasileiro (em 1890 apenas 44% da população era branca), promover a miscigenação, ocupar o território nacional e o novo mercado de trabalho, razão pela qual, inclusive, foram colocadas restrições aos afro-norteamericanos, com o argumento de que nos EUA existia o ódio racial (vislumbravam um “modelo racial harmônico” – a falsa democracia racial) e aos japoneses, por serem considerados “um povo não assimilável, além do caráter prejudicial da mistura com o amarelo.” Ou seja, os projetos emancipacionistas tinham como preocupação a formação de um povo brasileiro. E os projetos imigrantistas “passam por um discurso de inferioridade racial do negro”, além, de um explícito projeto de Estado de “embranquecimento do país”, buscando sua origem eurocêntrica. O objetivo era não apenas excluir o negro de um modo geral do novo mercado de trabalho e do processo de industrialização do país, mas “preparar a subjetividade dos futuros trabalhadores livres para continuarem a considerar o branco como seu superior”.
Esquecem que os/as indígenas – verdadeiros donos desta terra chamada Brasil – e os africanos e africanas e seus/suas descendentes, tinham e têm sua história, sua cultura, sua religiosidade, seus conhecimentos, suas experiências, baseadas na solidariedade e no respeito – o que foi fundamental para o enfrentamento ao processo de escravidão. Os quilombos são um belo exemplo de resistência e organização.
Esquecem, também, que antes da chegada dos europeus em massa existia trabalho no Brasil e era desenvolvido pelos negros, negras e indígenas e seus/suas descendentes e que os/as mesmos/mesmas são diretamente responsáveis pela quebra do sistema de monocultura, através das culturas de subsistência tanto nas fazendas como nos quilombos, sendo mesmo, o comércio entre vilas e comunidades quilombolas, o principal mercado existente.
Certamente graças à luta cotidiana dos/das indígenas e afrodescendentes, muita coisa mudou; mas apesar dos avanços – inclusive – da própria sociedade brasileira, o que se constata é que mesmo para negros que têm o mesmo número de anos de estudo que os brancos, têm uma menor inserção em determinadas profissões e setores e recebem menores salários, muitas vezes, desenvolvendo as mesmas atividades.
Estudos oferecem diversas causas para estas discriminações, que são ainda maiores em relação às mulheres negras, mas a causa fundamental está na colonização européia, na diáspora africana, na escravidão, na quase completa dizimação do povo indígena; na ideologia do branqueamento e superioridade racial, na exclusão dos negros e negras dos postos de trabalho e do processo educacional, com a imigração e o deslocamentos dos/das mesmos/mesmas para os centros menos desenvolvidos, no falso mito da democracia racial, nos estereótipos e preconceitos contra o povo negro e indígena.
A não integração de negros e negras após a “abolição” e a conseqüente política eugenista, levaram a um processo sistêmico de exclusão dos negros e negras e seus descendentes, que perpassam todos os setores da nossa sociedade, seja no não reconhecimento da historiografia do negro, seja, na política de marginalização, na política partidária, nos espaços geográficos, nos espaços sociais e econômicos, que culmina com o processo cada vez mais acelerado de extermínio físico, político e social desta camada da sociedade.
A sociedade brasileira, de um modo geral, é capitalista, burguesa, machista, racista, homofóbica!
Muito temos que avançar! Mas, não podemos esquecer de que o Estado brasileiro e a Europa têm uma dívida histórica, humanitária e financeira para com o povo africano, para com os indígenas e para com os/as afrodescendentes em nosso país, pelos crimes cometidos.
Portanto, sem abrir mão das quotas raciais, étnicas e sociais, exigimos REPARAÇÃO! Que paguem o que nos devem, façam autocrítica e peçam desculpas pelos crimes que cometeram.
O que os europeus fizeram com os povos africanos e afrobrasileiros, sob os auspícios da Igreja Católica, assim como contra os povos indígenas é CRIME CONTRA A HUMANIDADE!
Em nome das migalhas do poder, não podemos e nem devemos abrir mão da luta por REPARAÇÃO, sob pena de estarmos perpretando mais um crime contra o povo africano e os/as afro-brasileiros e brasileiras.
EXIGIMOS REPARAÇÃO HISTÓRICA, HUMANITÁRIA E FINANCEIRA!
Viva Zumbi, Dandara e todos/todas que lutaram em defesa dos direitos dos povos indígena e negro!
Fonte: FENASPS.